No seguimento do artigo publicado na semana passada, vamos hoje abordar alguns princípios que devem ser considerados num processo de criação inclusiva. Na verdade, o Design Inclusivo é um trabalho em que ambas as partes irão ganhar, não só porque vai gerar um serviço diferenciador, na medida em que está a assumir uma posição de responsabilidade social, mas também porque apresenta um serviço que irá alcançar um maior número de utilizadores.


Identificar pontos de exclusão e/ou situações de desafio
Reconhecer os factores que facilitam ou dificultam o acesso a um determinado serviço, irá ajudar a compreender como solucionar esses mesmos problemas. Por um lado geram-se novas ideias e, por outro, oportunidades de diferenciação que se irão traduzir na conquista de mais usuários.
Um exemplo prático, aquando da criação de um vídeo cuja mensagem depende do som: estamos automaticamente a excluir pessoas portadoras de deficiência auditiva assim como outros usuários. Estaríamos igualmente a não conseguir alcançar o utilizador que, dadas as circunstâncias do momento, poderia ou não conseguir ouvir a mensagem áudio por se encontrar num local público com imenso ruído, e  sem acesso a auriculares ou auscultadores.

Reconhecer preconceitos pessoais e/ou culturais
Num processo de Design Inclusivo, é fundamental identificar características individuais e culturais que se poderão revelar como factores de atracção ou repulsa de um determinado utilizador.
Em determinadas temáticas e/ou serviços, é necessário fazer um estudo aprofundado do mesmo por forma a não espelhar única e exclusivamente o nosso meio e cultura. Se usarmos a nossa realidade individual e cultural como ponto de partida criativa, estamos certamente a desenvolver soluções para um público-alvo muito restrito. Quanto mais profunda for a análise, maior a probabilidade de alcançarmos mais utilizadores e comunidades. Um exemplo prático é a comunicação bilingue.

Apresente soluções de interacção diferenciadoras
Desenvolva um serviço que vá muito mais além da inclusão: o utilizador não só terá mais opção de escolha no serviço que melhor responderá às suas necessidades e desejos, como se sentirá muito mais envolvido. Pegando novamente no exemplo do vídeo, ao apresentar legendas estaremos não só a fornecer uma leitura rápida e instantânea do áudio, como a fazer uma tradução em tempo real e/ou ainda, a fornecer um serviço educativo (será também, mais um meio de ensinamento de leitura para crianças, por exemplo).
A criação de páginas de alto contraste é também uma boa referência, dado que não só beneficia pessoas portadoras de deficiências visuais, como proporciona também uma melhor utilização por parte de outros utilizadores quando, por exemplo, os seus dispositivos estão expostos a luz intensa.
O exemplo apresentado no último artigo, a propósito das notificações existentes em sistemas Android e IOS, é também ele um óptimo modelo de referência.

Criação de indicadores de foco
Indicadores de foco são elementos visuais que surgem para destacar links ou botões, aquando da navegação num determinado site. Os indicadores de foco ajudam-nos na interacção com um serviço, e elucidam-nos do elemento digital que tem o foco do teclado (o exemplo dado no artigo anterior a propósito do Linkedin, é um óptimo modelo de indicador de foco).

Teclado como suporte de navegação
Há um enorme leque de usuários que dependem exclusivamente da leitura de ecrã para acederem ao conteúdo de um determinado navegador. Falamos não só de invisuais, mas também de pessoas portadoras de deficiências motoras (permanentes ou de situação), ou até mesmo de alguém que, devido ao momento, não tenha os seus membros disponíveis (como por exemplo um pai que segura o seu bebé).
O indicador de foco é, nestes casos, muito importante para uma melhor navegação. Para que isto seja possível, é fundamental a organização dos elementos que promovam um fluxo visual e, por sua vez, uma leitura lógica e intuitiva: da esquerda para a direita e de cima para baixo. Outra dica é o uso de informação sucinta e de fácil absorção: evite o uso de links/informação ou menus extensos.
Um navegador que possa ser usado única e exclusivamente através do uso do Tab do teclado, é claramente um óptimo navegador e uma excelente referência de Design Inclusivo.

Queremos com estes exemplos explicar que com uma única solução irá ao encontro de diversos usuários em simultâneo, atendendo às suas peculiaridades individuais e/ou do momento.

“A inclusão é criar um mundo melhor para todos.”, Diane Richler


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